No dia 29 de agosto, a 8ª edição do FILIS - Fórum Internacional de Lideranças da Saúde, promovido pela Abramed, ocorreu no Teatro B32, em São Paulo. Com o tema central “Saúde Inovadora: Oportunidades para um Setor Sustentável”, o evento explorou as tendências e transformações que estão redefinindo o panorama da saúde no Brasil e no mundo.
Um dos temas mais urgentes discutidos durante o encontro foi a sustentabilidade e a necessidade crescente de que as instituições de saúde estejam ativamente engajadas na agenda ESG (ambiental, social e governança).
O evento também marcou a 6ª edição do Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld, seguida por um bate-papo sobre a importância de integrar todos os players do setor de saúde em uma cadeia de valor unificada.
Prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld
O prêmio Dr. Luiz Gastão Rosenfeld é um reconhecimento a profissionais que estimulam o desenvolvimento e a melhoria da saúde brasileira. Nesta 6ª edição, foi concedido ao Dr. Giovanni Guido Cerri, Professor Titular da FMUSP, Presidente do Conselho Diretor do InRad HCFMUSP e Coordenador de Inovação do HCFMUSP - InovaHC.
O doutor já foi secretário de Saúde do Estado de São Paulo e recebeu mais de 30 prêmios e distinções concedidos por sociedades do Brasil e do exterior por seu trabalho no campo da medicina.
Dessa vez, não foi diferente. Dr. Giovanni Guido Cerri foi homenageado pelo seu papel em melhorar o atendimento e acesso a saúde no Brasil. “Durante minha trajetória, meu foco tem sido contribuir para a saúde pública, buscando maneiras de reduzir as desigualdades na saúde. Esse é, de fato, o grande desafio que precisamos ajudar o país a superar”, comentou.
"Vivemos em uma época extremamente desafiadora, onde a sustentabilidade da saúde depende de avanços como saúde digital, IA e interoperabilidade. É crucial que todos tenham acesso a uma saúde de qualidade. Vamos continuar lutando para isso”, finalizou agradecendo a homenagem.
Como o aquecimento global afeta o setor de saúde
Carlos Nobre, cientista brasileiro da área de estudos sobre o aquecimento global, apresentou um panorama completo que sublinha a gravidade da situação climática e a necessidade de ações rápidas e eficazes para mitigar os riscos à saúde humana e ao meio ambiente.
O aumento da temperatura global é a questão mais urgente do nosso tempo. Segundo o cientista Carlos Nobre, o ser humano evoluiu em um ambiente com limites de temperatura que nunca ultrapassaram os níveis atuais. Nosso corpo está adaptado para climas mais frios, e a elevação da temperatura global representa um risco sem precedentes na história evolutiva.
"Com o aumento da temperatura global, especialmente em regiões tropicais como o Brasil, o corpo humano pode perder a capacidade de dissipar calor. Isso pode resultar em mortes em massa, especialmente entre bebês, idosos e pessoas vulneráveis", alerta Nobre.
Atualmente, já alcançamos um aumento de 1,5ºC, um número alarmante que já está causando danos significativos. Se a temperatura subir para 2°C, corremos o risco de perder os corais e de ver uma drástica redução da biodiversidade global. Além disso, o derretimento do permafrost na Sibéria, Canadá e Alasca pode liberar enormes quantidades de gases de efeito estufa, agravando ainda mais o aquecimento global e seus impactos.
Por isso, é urgente reduzir as emissões de gases de efeito estufa para evitar que a temperatura global ultrapasse os 2°C. A próxima Conferência do Clima (COP 30) foi destacada pelo especialista como um momento crucial para estabelecer metas mais rigorosas, como a neutralização das emissões até 2040.
Como o setor de saúde pode ajudar nesse cenário?
Apesar da situação alarmante, o setor de saúde pode e deve colaborar para promover a sustentabilidade e mudar este cenário. Ricardo Assumpção, Líder de ESG e Sustentabilidade para a América Latina e Chief Sustainability Officer Brasil da EY, destacou em sua palestra no FILIS que "a saúde sustentável vai além do cuidado com o paciente; ela inclui a adoção de práticas que reduzam o impacto ambiental das operações de saúde e promovam um bem-estar duradouro para as comunidades."
Para que isso aconteça, Ricardo enfatiza que a sustentabilidade corporativa deve ser integrada como um plano estratégico de negócios, fazendo parte da cultura da empresa, e não sendo apenas um protocolo a ser cumprido. “A sustentabilidade não perdeu força e continuará sendo uma prioridade. O custo dos impactos climáticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul, tem mostrado que a realidade é ainda pior do que as previsões que a ciência fez, como bem pontuou o Carlos Nobre”, alertou.
Nesse contexto, o setor de saúde enfrenta desafios e pressões crescentes para adotar práticas sustentáveis. Empresas do setor precisam se movimentar rapidamente para não regredir nas questões de mudanças climáticas, equilibrando a geração de lucro com externalidades positivas para a sociedade e o meio ambiente. “A pandemia destacou a importância dos riscos não financeiros, como questões ambientais, sociais e de governança, que podem ter impactos econômicos significativos”, acrescentou Ricardo.
A chave para o sucesso na agenda ESG, segundo o especialista, é entender o que é material para o negócio e como isso afeta a capacidade de gerar lucro. Há um equilíbrio necessário entre o crescimento de longo prazo e os resultados de curto prazo, que deve ser cuidadosamente gerenciado. Além disso, a colaboração entre empresas, investidores e reguladores é essencial para avançar na agenda de sustentabilidade, com a regulação desempenhando um papel fundamental em garantir que as metas sejam cumpridas e que a agenda ESG seja levada a sério.
A gestão eficiente dos recursos e o foco no capital humano são fundamentais para o futuro do setor. “O Brasil tem uma oportunidade única de se posicionar como líder em soluções para as mudanças climáticas, especialmente com a realização da COP 30 aqui. A capacidade de inovar e produzir soluções sustentáveis pode transformar a percepção global do ‘Sul Global’”, concluiu Ricardo.
Impactos das mudanças ambientais no setor de saúde
Ricardo Assumpção, que também fez parte do último painel da manhã - “Impacto das mudanças ambientais e climáticas na saúde brasileira” - e reiterou que o relatório de sustentabilidade deve ser usado como uma ferramenta consultiva utilizada diariamente, não apenas um documento a ser arquivado após sua criação. “Ele deve ser conciso e eficaz, refletindo práticas que realmente fazem a diferença para o meio ambiente, a empresa e a sociedade”.
Um exemplo notável de boas práticas é o do Hospital Sírio-Libanês, apresentado por Cesar Nomura, Diretor de Medicina Diagnóstica da instituição. O hospital implementou várias iniciativas para reduzir suas emissões de carbono, como a aquisição de créditos de carbono e a adoção de energias renováveis. Uma análise interna ainda revelou que a área de medicina diagnóstica contribuía significativamente para as emissões, resultando na implementação de ações direcionadas para mitigar esse impacto.
Carlos Nobre, que também participou do painel, destacou as queimadas na Amazônia como uma das crises ambientais mais críticas enfrentadas pelo Brasil. “As queimadas têm gerado poluição significativa, impactando severamente a saúde da população e resultando em milhares de internações anuais. É imperativo promover uma economia sustentável que previna o desmatamento e o uso do fogo para melhorar a saúde pública e preservar o meio ambiente”, enfatizou Nobre.
Ele também abordou o fato de que muitos hospitais na América Latina estão situados em áreas vulneráveis a inundações, o que representa um risco significativo para a segurança nacional e a saúde pública. Adaptar a infraestrutura de saúde a esses riscos deve ser uma prioridade nas políticas de sustentabilidade do setor, para assegurar que as instituições estejam preparadas para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e proteger a saúde da população.
Claudia Cohn, Diretora Executiva na Dasa e Membro do Conselho de Administração da Abramed, reforçou a urgência de o setor de saúde adotar práticas sustentáveis em suas operações e políticas. Segundo ela, integrar essas práticas é essencial para enfrentar os desafios impostos pelas mudanças ambientais e climáticas e garantir um futuro mais seguro e saudável para todos.