A poucos dias da primeira edição da São Paulo Tech Week (3 a 9 de dezembro), Beatriz Gusmão, diretora da SP Negócios, contou à Berrini Ventures sobre como surgiu a iniciativa do evento e que benefícios ele pode trazer aos participantes, entre os quais estão os empreendedores da área da Saúde.
Berrini Ventures (BV): O que motivou a criação da São Paulo Tech Week e quais as expectativas em relação ao evento?
Beatriz Gusmão (BG): Nós da São Paulo Negócios, que é uma agência de promoção de investimentos na cidade, começamos a mapear quais seriam os setores que realmente carecem de um apoio governamental, via política pública, para que estes se consolidem ou se expandam no município. Descobrimos, depois deste estudo, que o setor da Tecnologia era transversal a todos eles, a toda a cadeia. Então nos debruçamos muito sobre isso para entender como poderíamos fazer para que o setor fosse promocionado. As grandes cidades já descobriram que o setor de Tecnologia é o que mais paga melhores salários, que mais tem oferta de empregos disponíveis, e é o que traz mais renda, então é o que mais poderia agregar maior valor a todo o resto da cadeia, fazendo com que o Brasil possa sair da posição de um exportador de commodities para virar um exportador de valor agregado, coisa que a gente ainda não conseguiu fazer. Vemos muitas cidades grandes que não têm as “evidências” que São Paulo reúne. Somos a cidade mais amigável da América Latina para abrir uma startup, temos mais de mil startups ativas, e mais de 50% dos headquarters latino-americanos das grandes empresas de tecnologia estão aqui, segundo a Fortune. Temos ainda um universo bastante relevante de talentos, mão-de-obra qualificada, centros de pesquisa. Fora isso, São Paulo é uma cidade acolhedora, que recebe de uma maneira muito democrática qualquer etnia; temos um mercado consumidor muito consolidado, 60% da receita de serviços financeiros do Brasil estão concentrados em São Paulo. Por tudo isso, resolvemos, junto com o Governo do Estado, promover o setor, que apesar de tão sólido, tem iniciativas muito pulverizadas. A gente tem instituições como a IT Mídia, por exemplo, que já se concentram e se especializaram na promoção do diálogo entre os pares do setor. Mas o governo pode ajudar e fazer isso de uma maneira mais objetiva, porque quando se fala em nome do prefeito ou do governador, a gente vê o quanto uma iniciativa desta ganha realmente força para acontecer.
BV: Como surgiu a ideia deste formato de evento?
BG: Nosso benchmark foi a London Tech Week, que está em sua segunda edição. No primeiro ano, o evento reuniu 40 mil pessoas em Londres. E no segundo, 200 mil pessoas. Importante mencionar que estes eventos são todos privados. Então, o que fazemos é a curadoria, damos o estímulo e colocamos todos dentro de uma mesma plataforma que é o site www.saopaulotechweek.com. É o mesmo conceito de Londres, que também tem uma iniciativa de tecnologia espalhada pela cidade toda, e as pessoas descobrem qual será sua experiência indo ao site e verificando o que existe direcionado ao seu perfil.
Teremos desde ativações no Cubo, a própria abertura na IT Mídia, com seu espaço incrível na Berrrini, até ações muito interessantes com foco em pessoas que não têm acesso a esse tipo de evento, tanto em termos de condições econômicas, quanto de gênero e até de mobilidade.
BV: Por que Saúde é um pilar importante neste projeto?
BG: Os quatro setores prioritários para a Prefeitura são Serviços Financeiros, Tecnologia, Economia Criativa e Saúde e Ciências da Vida. Saúde e Ciências da Vida, hoje, em termos de aplicação de resultado, de renda, de empregabilidade, é talvez a maior oportunidade que temos no mercado, porque é um setor muito especializado, que demanda alta concentração de investimento, então é uma área que se comunica também com a questão dos serviços financeiros e está ligada a uma atividade tecnológica de ponta. Finalmente e felizmente vamos ter essa ação, pois, como empresa, nossa missão é estimular os setores prioritários para a cidade. Estaremos apoiando o evento na Berrini Ventures com o Health rounds e queremos muito ficar próximos de vocês, usando-os como case para promover esse setor.
BV: Na sua opinião, o que ainda se encontra deficitário para que o possa se desenvolver aqui? Que soluções você sugere?
BG: A cidade está em falta com um parque tecnológico, com uma universidade de ponta para que o setor se desenvolva. Também em ter espaços físicos dedicados a P&D, com um movimento de apoio à internacionalização do setor, de modo que ele fique exposto ao que está sendo feito lá fora. Então eu vejo que poderíamos, junto com uma agência de promoção de exportações, por exemplo, começar a fazer mais eventos que tenham esse guarda-chuva institucional, e que tragam tanto pesquisadores quanto potenciais investidores para as ações de incentivo ao setor. Eu entendo que a questão de Saúde e Ciência da Vida, assim como todas as indústrias que necessitam de inovação, estão bastante subordinadas hoje aos pequenos empreendedores. As grandes corporações hoje não conseguem mais produzir a inovação necessária para acompanhar o ritmo da competição mundial. O que poderíamos fazer, de uma maneira muito rápida e com resultados de curto prazo, é começar a estimular e mapear empresas iniciantes, que já validaram seu modelo de negócio, mas que precisam de apoio para escalar sua solução. Podemos começar a estimular em conjunto essas empresas para que se faça realmente um matching entre o desenvolvedor da solução e o potencial do investidor. Podemos abrir nosso banco de dados e todos os nossos programas e direcioná-los para atividades de Ciências e Saúde da Vida, principalmente para atuações que envolvam mentoria.
BV: Por ser um mercado muito regulado, que dicas você daria às startups de Saúde que estão chegando agora?
BG: Inicialmente a atenção necessária para entender e poder contemplar a regulação existente, mas uma vez que ela não seja pertinente ou não tenha coerência com as novas aplicações do mercado, é importante se juntar aos mesmos pares, que tenham a mesma demanda e se dedicar a fazer uma interação bastante grande com o governo, para que haja abertura. Ninguém consegue fazer isso sozinho, talvez as grandes sim, mas as pequenas e médias, não. É importante que haja essa conjunção de empresas, para que a voz e a força delas seja maior.
Fonte: Com informações do Berrini Ventures, 27/10/15
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