A partir de agosto, o Rio de Janeiro terá o mais moderno e especializado hospital de traumatologia e ortopedia do País. As novas instalações do Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into) contarão com uma área de aproximadamente 70 mil m², cinco vezes maior que as antigas instalações da entidade. Porém, as modernas instalações serem eficientes como previsto no projeto inicial será necessário um grande investimento em Recursos Humanos. De acordo com um levantamento realizado pela própria instituição são necessários, ao menos, 3 mil novos profissionais, entre eles, 383 médicos para o hospital funcionar com 100% de sua capacidade de atendimento.
Com o objetivo de se tornar referência nacional em Ortopedia, Traumatologia e Reabilitação, o novo Into custou aos cofres públicos R$195 milhões, sendo R$118 mi investidos em infraestrutura e R$77 mi para aquisição de equipamentos e materiais permanentes. De acordo com a coordenadora da divisão das unidades de produção de apoio diagnóstico e terapêutico do Into e responsável pelo gerenciamento da mudança para o novo instituto, Germana Lyra, um dos principais motivos para a ampliação do instituto foi atender a demanda por procedimentos em Traumatologia e Ortopedia e reduzir uma fila de cerca de 20 mil pacientes que esperam por uma cirurgia.
?Decidimos ampliar o Into para reduzir essa fila de espera. Para algumas especialidades atendidas, o tempo de espera pode superar três anos, pois não damos conta da demanda, que só tende a aumentar, acompanhando o crescimento dos acidentes de trânsito e da violência urbana, que são responsáveis por parte dos traumas que recebemos?, acrescenta Germana.
Com o novo instituto, o número de cirurgias realizadas passará de 6 mil para cerca de 20 mil procedimentos ao ano, enquanto o volume de consultas ambulatoriais passará de 102 mil para 305 mil. A construção de um Centro de Reabilitação dará condições para que 86 mil consultas sejam realizadas a cada ano.
Além de ampliar sua capacidade de atendimento, a nova unidade abrigará toda a área de pesquisa do instituto, além dos bancos de tecido muscoesquelético, de ossos, laboratórios de fisiologia do esforço, pesquisa neuromuscular e um centro de terapia celular.
Segundo Germana, além das mudanças físicas, uma série de transformações culturais ocorreram, entre elas, a melhoria e reengenharia de processos e o aumento da atenção voltada à segurança do paciente. ?Em 2010, o hospital fez um estudo sobre o clima organizacional para saber qual a percepção sobre a segurança do paciente dentro da instituição. A partir dos dados coletados e os processos estabelecidos pela JCI, o Into lançou o projeto Hospital Seguro, que propõe a notificação de eventos adversos, por meio de sua intranet, criando um indicador que, num segundo momento, será usado para identificar possíveis falhas no processo assistencial. Com o grande volume de cirurgias que faremos, se não tivermos um processo de segurança bem estabelecido, os erros continuarão ocorrendo e colocando em risco a saúde do paciente?.
Outra novidade embarcada na unidade será o atendimento multidisciplinar e o conceito de gestão do cuidado, adotado apenas pelos hospitais da USP e Unicamp, em São Paulo. O conceito oferece à instituição de saúde maior controle sobre o quadro clínico do paciente, uma vez que, acompanhado por uma equipe multidisciplinar de médicos e enfermeiros, ele recebe todo o cuidado necessário, desde um serviço de nutrição adequado, caso esteja acima do peso adequado, até o serviço de assistência social. O impacto do modelo vai além da melhoria da gestão o paciente e impacta diretamente as contas do hospital, que terá uma redução considerável de custos com a diminuição do cancelamento de procedimentos cirúrgicos por falta de condições clínicas do paciente.
Para Germana, o processo multidisciplinar agiliza o atendimento. ?Não podemos ver o paciente apenas como um osso. O modelo de atendimento traz mais agilidade ao hospital que atende o paciente em toda a especialidade de uma só vez, reduzindo custos com exames e desonerando as equipes assistenciais?. A coordenadora do Into acrescenta que, com a implantação do sistema, as consultas serão agendadas em um prazo máximo de 60 dias e antes da implantação, a agenda do instituto estava lotada impossibilitando a marcação de consultas.
Germana explica que a instituição, que atende pacientes de alta complexidade em ortopedia de todo o País corre o risco de ter o mesmo futuro que o Hospital do Fundão, da UFRJ, e se tornar mais um caso de desperdício de verba pública caso o déficit de profissionais da saúde não seja rapidamente solucionado. ?O projeto é muito grande, o hospital já possui todo o equipamento e material necessário, mas não há profissionais suficientes para colocá-lo totalmente em operação. Se nada for feito será mais um dinheiro jogado no lixo?.
O hospital, que entra em operação no dia 22 de agosto, possui um déficit de 383 médicos, sendo 110 anestesistas e 68 ortopedistas, além de pediatras e intensivistas. ?Temos um problema sério aqui, pois não podemos abrir concurso público e nem convocar os profissionais que foram aprovados em outros concursos do Ministério da Saúde?. Segundo Germana, devido a suspensão por decreto presidencial emitido no início do ano, o instituto não pode chamar um concurso público nem convocar o pessoal aprovado em concurso devido à outra proibição, desta vez, do Ministério do Planejamento.
?Estamos conversando com os ministérios da Saúde e do Planejamento para tentar sanar este grave problema, caso contrário, o hospital será inaugurado sem poder operá-lo com 100% de sua capacidade? afirma Germana.
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Saúde um concurso público para o preenchimento das vagas no instituto já foi solicitado e aguarda a aprovação do ministério do Planejamento. Em nota, o órgão informou que a proposta está em análise, sem data definida para publicação do edital.
As novas instalações do Into entraram em operação, no entanto apenas parte do novo hospital poderá ser utilizada já que a central de esterilização do prédio ainda não foi instalada o que faz com que o antigo prédio continue realizando cirurgias e outros procedimentos que dependam da central como o ambulatório e a reabilitação.
A divisão entre os dois prédios gera um problema logístico com os prontuários dos pacientes, que terão de transitar entre os dois. ?Já é difícil operar um hospital de alta complexidade, imagine como será realizar os procedimentos em dois hospitais, sendo metade deles em um local e a outra metade em outro?, conclui a coordenadora Germana.
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