No mundo todo, mas principalmente nos Estados Unidos, a adoção de tecnologia tem elevado os custos destinados à saúde. Esta é uma verdade facilmente comprovada graças ao caráter de incorporação e não substituição de tecnologias. A cada novo exame criado, os profissionais de saúde solicitam o exame antigo, já existente, e o novo.
E mais, nosso sistema de saúde, tanto no segmento público quanto privado, não oferece incentivos para o uso de uma medicina custo-efetiva. Os profissionais da ponta assistencial, muitas vezes, nem sabem quanto custa o que estão solicitando e os pacientes esperam que, ao ir a uma consulta, receberão uma receita de medicamentos e um encaminhamento para realização de exames, gerando uma cadeia de expectativas que o sistema não consegue financiar.
Segundo Martha Oliveira, Diretora de Desenvolvimento Setorial da ANS, no Fórum realizado pela Folha de São Paulo, os países da OCDE realizam 40 ressonâncias/1000 habitantes. No Brasil, a média é de 80. E nossos resultados de ainda são piores. A realização desordenada não traz benefícios para os pacientes. Para ela, ainda no mesmo encontro, o uso de tecnologias mais avançadas virou sinônimo de melhor atendimento. Na verdade, teremos que mudar essa cultura para que profissionais e pacientes façam o que dá maior retorno e, não necessariamente, o que é mais moderno.
Se pensarmos no benefício para a saúde que cada tratamento tem, podemos separá-los em três categorias:
1. A primeira possui os maiores benefícios por dólar gasto. É o caso de antibióticos para infecções bacterianas ou um retroviral para o vírus HIV. Não necessariamente é uma tecnologia barata, mas entrega alto valor para o todos ou quase todos os pacientes que o recebem.
2. Na segunda categoria, temos os procedimentos que apresentam benefícios para alguns pacientes, mas não todos. Alguns medicamentos apresentam bons resultados em alguma porcentagem de pacientes, mas não são regra para uso. Outro caso é a angioplastia, que apresenta altíssimo valor para o paciente nas primeiras 12 horas e, depois disso, tem resultados não tão evidentes.
3. Nesta última categoria, os benefícios vistos são pequenos ou apoiados por pouca evidência científica. São cirurgias complexas, uso de alguns robôs, lasers e outras tecnologias.
Segundo a Technology Review, o grande responsável pelos aumentos de custo do sistema envolve tecnologias na terceira categoria – e isso está se tornando um problema – especialmente quando a porcentagem do PIB direcionada à saúde cresce e desponta como a maior do mundo e os resultados ainda não refletem este investimento.
As adoções de tecnologia não seguem a demanda populacional – muito menos a distribuição geográfica que esta população necessita – e, assim, as instituições passam a criar a demanda para determinadas máquinas, equipamentos ou drogas, sem evidências reais do seu funcionamento. Este movimento deve vir com um estudo de entrega, em que há maior garantia de que pacientes que possam se beneficiar de determinado tratamento recebam-no.
No fim, quem paga pelo mal uso da inovação? Como ela pode ser financiada a ponto de ter tempo de se mostrar custo-efetiva? E como retirá-la quando for visto que ela não funciona mais que a tecnologia anterior ou quando os estudos mostrarem que ela tem a mesma eficiência, mas a custos maiores?
Nos Estados Unidos, a discussão envolve o financiamento do Medicare. Alguns defendem que o programa deve investir nas novas tecnologias por três anos e, após este tempo, caso não haja comprovação científica, retirar o benefício. Seria essa a saída? E o desperdício de investimento em máquinas, pessoal, estrutura…?
No Brasil, a incorporação tecnológica acontece em diferentes níveis, seja no setor privado, com hospitais de ponta investindo em tecnologias já consagradas internacionalmente ou fazendo uma aposta em novas tecnologias em saúde, fomentando novos estudos na área, ou no setor público, com o CONITEC responsável pela avaliação da viabilidade econômica frente à eficiência do que será incorporado no sistema.
Temos mais perguntas que respostas para este assunto, mas é evidente que a medicina precisa continuar evoluindo e, certamente, como disse Carlos Garcia, Superintendente Financeiro da SPDM, em uma de suas aulas, entre a disponibilidade de um conhecimento e a incorporação de seus benefícios na saúde da população, há um gap temporal que depende da sociedade em seus diversos aspectos: políticos, sócio-econômicos e comportamentais.