A saúde mental no Brasil é um dos principais desafios contemporâneos para organizações e sistemas de saúde. Longe de ser apenas uma questão individual, seus impactos reverberam diretamente na produtividade, no clima organizacional e nos custos operacionais das empresas. 

No setor de saúde, profissionais sobrecarregados enfrentam taxas crescentes de ansiedade, depressão e síndrome de Burnout — um cenário agravado pela pandemia de Covid-19, que expôs e intensificou vulnerabilidades pré-existentes. 

Os efeitos vão além do bem-estar dos colaboradores: refletem-se em afastamentos frequentes, alta rotatividade, queda na qualidade do atendimento e aumento das despesas com saúde suplementar

A gestão estratégica da saúde mental tornou-se, portanto, imperativa tanto no ambiente corporativo quanto na sustentabilidade do sistema de saúde como um todo.

Dados recentes saúde mental no Brasil

O Brasil vive um cenário preocupante em relação à saúde mental, especialmente entre os jovens. 

Segundo o relatório global do Global Mind Project (2024), pessoas entre 18 e 34 anos apresentam um índice médio de apenas 38 pontos no MHQ (Mind Health Quotient) — número que indica dificuldades significativas para lidar com a rotina, manter relações sociais e exercer controle emocional. 

Além disso, mais de 40% desse grupo sofre com sintomas debilitantes, como impulsividade, pensamentos obsessivos e sensação de desconexão da realidade.

Dados nacionais confirmam o agravamento da situação. A pesquisa Covitel 2024 revela que 56 milhões de brasileiros — o equivalente a 26,8% da população — convivem com algum grau de transtorno de ansiedade.

gráfico de pizza sobre a saúde mental no brasil

Essa pressão crescente se reflete diretamente no SUS: entre janeiro e outubro de 2024, foram registrados 671.305 atendimentos ambulatoriais por ansiedade, um aumento de 14,3% em relação a todo o ano anterior, segundo levantamento do Ministério da Saúde feito a pedido da revista VEJA.

Mesmo diante desse quadro, o Brasil tem avançado no acesso ao cuidado em saúde mental. Até novembro de 2024, foram contabilizados 3.019 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) em funcionamento — superando a meta estabelecida para o ano.

Só em 2024, foram habilitados 134 novos CAPS e qualificados outros 26 serviços. E o Novo PAC prevê mais 150 unidades até 2026, com um aporte de R$ 339 milhões.

Especialistas apontam que o avanço na rede de atendimento precisa ser acompanhado de ações preventivas, com foco nas causas estruturais da crise atual — que incluem:

  • uso excessivo de telas;
  • isolamento social;
  • pressões ambientais;
  • desconexão emocional. 

Entender essas origens é um passo importante para transformar os cuidados em saúde mental no país.

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Quais são os impactos dos transtornos mentais nos custos?

Os transtornos mentais têm efeitos abrangentes:

Âmbito Impacto
Economia Estima-se que os transtornos mentais custem à economia global cerca de US$ 1 trilhão por ano em perda de produtividade, podendo chegar a US$ 6 trilhões até 2030, conforme publicado na revista The Lancet.
Sociedade Estudos indicam que a taxa de suicídio entre jovens no Brasil cresceu 6% ao ano entre 2011 e 2022, segundo o Cidacs/Fiocruz Bahia.
Indivíduos Transtornos como ansiedade e depressão reduzem a qualidade de vida e aumentam o risco de doenças cardiovasculares, diabetes e outras condições físicas.

Como está a saúde mental do brasileiro hoje?

A saúde mental dos brasileiros enfrenta um dos momentos mais delicados da história. Segundo o Health Service Report 2024, 54% da população brasileira considera a saúde mental o principal problema de saúde no país.

O salto aconteceu durante a pandemia, ganhando força nos anos seguintes: 40% em 2021, 49% em 2022, 52% em 2023 e um novo recorde em 2024.

A percepção crítica é reforçada por números alarmantes. Uma pesquisa Datafolha, de setembro de 2024, revelou que 7% dos adultos brasileiros avaliam sua saúde mental como ruim ou péssima, enquanto 30% relatam dificuldades frequentes para dormir e 31% convivem com ansiedade de forma recorrente.

O impacto é ainda mais acentuado entre os jovens. De acordo com um estudo internacional publicado pela revista Galileu, 34% da população brasileira se considera angustiada, com destaque para pessoas com menos de 35 anos.

Essa faixa etária também apresentou os piores índices de saúde mental no relatório Global Mind Project 2024, com sintomas como distorção da realidade, impulsividade e sensação de desconexão emocional.

A preocupação também se estende ao estresse. Em 2024, 31% dos brasileiros mencionaram o estresse como um dos principais problemas de saúde, número que cresce de forma constante desde 2022.

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Saúde mental no trabalho

Transtornos mentais continuam sendo uma das principais causas de absenteísmo, queda de produtividade e rotatividade no ambiente corporativo.

Uma pesquisa global da Sodexo apontou que 27% dos colaboradores em seis países relataram níveis de bem-estar mental médios ou ruins. Em 80% dos casos, o próprio trabalho é citado como a principal fonte de estresse.

gráfico de pictorama sobre a saúde mental no brasil

A promoção da saúde mental no trabalho passou a ser não só uma questão ética, mas também uma estratégia de retenção e desempenho nas empresas.

Mesmo com índices de empregabilidade em ascensão, 57,7% dos profissionais com até 29 anos afirmam ter enfrentado desafios emocionais recentemente — número quase quatro vezes maior do que o registrado entre trabalhadores com mais de 50 anos.

Quais os desafios enfrentados na saúde mental no Brasil?

Os desafios enfrentados pela saúde mental no Brasil são complexos e multifacetados. Alguns dos principais obstáculos incluem:

Falta de acesso a serviços de saúde mental 

A oferta de serviços especializados em saúde mental é limitada, especialmente em áreas mais remotas. O sistema público de saúde (SUS) enfrenta sobrecarga, e a disponibilidade de profissionais qualificados nem sempre é suficiente.

Custo e desigualdade 

O acesso a tratamentos privados de saúde mental, como consultas com psicólogos e psiquiatras, pode ser muito caro, tornando o tratamento inacessível para boa parte da população, especialmente em tempos de crise econômica.

Precariedade no suporte a profissionais de saúde mental

Muitos profissionais enfrentam altas demandas de trabalho e condições precárias de trabalho, o que pode impactar a qualidade do atendimento oferecido.

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Questões socioeconômicas

Desigualdades sociais e econômicas, como pobreza, violência e falta de acesso à educação de qualidade, também estão fortemente associadas a problemas de saúde mental.

Pessoas que enfrentam essas dificuldades tendem a ter maior vulnerabilidade a transtornos mentais.

Saúde mental no ambiente de trabalho

A partir de 2025, todas as empresas brasileiras deverão adotar medidas concretas para promover a saúde mental no ambiente de trabalho.

Com a atualização da Norma Regulamentadora NR-01, por meio da Portaria MTE nº 1.419, passa a ser obrigatória a inclusão de riscos psicossociais na gestão de saúde e segurança ocupacional (GRO).

A nova exigência entrou em vigor em 1º de janeiro de 2025 e determina que as empresas incluam fatores de estresse, sobrecarga emocional, assédio, jornadas exaustivas e outros elementos que afetam o bem-estar psíquico dos trabalhadores em seus Programas de Gerenciamento de Riscos. 

A avaliação deve considerar aspectos como clima organizacional, estilo de liderança, condições de trabalho e equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, a medida visa prevenir adoecimentos mentais ligados ao ambiente corporativo, como ansiedade, burnout e depressão, que têm impacto direto na produtividade e no clima interno das organizações.

arte de mulher deitada em cima de laptop

Segundo especialistas, a atualização da norma marca uma virada na responsabilidade das empresas, que passam a ter o dever legal de identificar e agir sobre fatores de risco à saúde mental, e não apenas oferecer ações pontuais como palestras e campanhas. 

Como destacou a UOL Economia, o foco está na prevenção estruturada, com diagnóstico contínuo e acompanhamento técnico, reforçando a necessidade de uma cultura organizacional mais acolhedora e segura psicologicamente.

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Como os problemas de saúde mental impactam nos custos?

Problemas de saúde mental não afetam apenas o emocional dos colaboradores — também têm impacto direto sobre a saúde física e os custos operacionais das empresas. 

Transtornos como ansiedade, estresse crônico e depressão, quando não tratados, estão associados a agravamentos clínicos como doenças cardiovasculares, distúrbios do sono, dores crônicas e aumento do consumo de medicamentos. 

O resultado é um crescimento significativo na demanda por atendimentos médicos, licenças, absenteísmo e uso de planos de saúde.

Muitas empresas contratam planos de saúde corporativos como forma de oferecer suporte aos colaboradores e tentar conter os efeitos desse cenário. Segundo especialistas, essa prática tem gerado impactos financeiros crescentes para as próprias operadoras

De acordo com Vinicius Neves, superintendente executivo da Aliança para Saúde Populacional, colaboradores com histórico de adoecimento mental têm mais propensão a desenvolver doenças físicas associadas e demandam cuidados de maior complexidade e custo.

mulher de terno e notebook com feição estressada por saúde mental no brasil

Além disso, há uma preocupação crescente com a sustentabilidade dos contratos coletivos.

Ricardo Ramos, da Allcare, aponta que planos com alta sinistralidade por causas relacionadas à saúde mental tendem a ficar mais caros a longo prazo, criando uma espiral de aumento de custos que impacta empresas e operadoras.

Esse cenário reforça a urgência de investir em prevenção e promoção da saúde mental no ambiente de trabalho, com programas estruturados, acompanhamento psicológico contínuo e uma cultura de acolhimento. 

Mais do que um benefício, esse tipo de ação se revela uma estratégia para proteger tanto o bem-estar dos profissionais quanto a viabilidade econômica das empresas.

O futuro da saúde mental no Brasil 

A saúde mental no Brasil se consolidou como uma pauta urgente, refletida tanto nos dados alarmantes sobre ansiedade, estresse e adoecimento entre jovens quanto na evolução das políticas públicas e exigências legais para empresas. 

Nos últimos anos, o tema deixou de ser tabu e passou a ocupar espaço em reuniões corporativas, planejamentos estratégicos e políticas de RH. Como aponta o Sebrae, esse movimento abre espaço para um ciclo de oportunidades: 

  • criar programas de apoio psicológico;
  • redes de escuta ativa;
  • lideranças mais preparadas;
  • ambientes de trabalho emocionalmente sustentáveis.

O cenário atual não é simples, mas traz uma chance real de transformação.

Falar sobre saúde mental, agir preventivamente e construir uma cultura mais humana pode ser a chave para promover qualidade de vida, produtividade e crescimento conjunto — para pessoas e empresas. 

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